domingo, 1 de novembro de 2009

IDENTIDADE NACIONAL?


"A Ibéria tem a forma duma pele de boi." Estrabão
"A Península Ibérica tem a forma duma jangada." Anónimo português in Jangada de Pedra, José Saramago

A Constituição Espanhola define a Espanha como um país plurilingue e com muitos dialetos, declara que «o Espanhol é a língua oficial do Estado» (Art. 3.1) y acrescenta que «As demais línguas espanholas serão também oficiais nas respectivas Comunidades autónomas de acordo com os seus Estatutos» (Art. 3.2).

Para entender esta diversidade linguística, basta ler a história da Península Ibérica e entenderá a origem, a formação e a evolução de todas as línguas atualmente utilizadas, de forma oficial ou não, pela sua população.

De forma oficial ou não? O que significa? Apenas quatro línguas são reconhecidas como oficiais: o Castelhano (língua nacional, oficial em todo o Estado), o Catalão (oficial na Catalunha), o Galego (oficial na Galícia) e o Euskera (oficial em Euskadi). As demais línguas, infelizmente não têm reconhecimento de co-oficiais, porém são utilizadas e respeitadas, inclusive pelo Instituto Cervantes.  As línguas não oficiais, ou dialetos, são diversos, como por exemplo, o Valenciano (em Valencia), o Aragonés, o Asturiano, o Andaluz, o Portugués, o Murciano, o Leonés, o Benasqués, o Canario, o Extremeño, o Baleárico.

Morando na Espanha, lembro-me bastante do tema da redação do meu Vestibular: "As diferenças regionais não excluem a identidade nacional".  Escrevi as linhas daquele tema maravilhoso com alegria, porque era fácil de argumentar, portanto citei, comprovei, utilizei um raciocínio lógico, sem repetições e sem divagações e penso que gostaram da minha dissertação; prova disto: 4º em Direito e 7º geral no Vestibular. Belos tempos aqueles...Imagino este mesmo tema na prova de "Selectividad" (Vestibular) aqui na Espanha; não tenho a certeza de que seria tão fácil, pois de todas as idéias que permeiam nosso pensamento, o  repertório pessoal de cada um depende de tudo o que lemos, vimos e ouvimos, e às vezes este dircurso pode estar meio "contaminado".

A riqueza cultural de uma população que tem a oportunidade de ser bilíngue, é imensa. Ir de um idioma ao outro, através de becos, esquinas e ruas estreitas da mistura idiomática, efeito normal do bilinguismo, é extremamente enriquecedor para quem fala e para quem escuta.  Esta Torre de Babel espanhola com herança íbera, grega, fenícia, árabe, visigoda, romana, etc, tem a base fundamental, a experiência para afrontar o presente, a nova torre construida com o cimento do tempo e com os andaimes da tolerância.

Difícil? Depende do grau de sociabilização da comunidade.

Dando exemplos:

1) Imaginem um carioca ter que ir morar temporariamente em Aracaju, por motivo de trabalho, e os seus filhos adolescentes não conseguirem entender o idioma na sala de aula.
2) Imaginem um mineiro, turista em Porto Alegre, ter que pedir uma cerveja  utilizando mímica.
3) Imaginem uma católica família cearense procurando os horários da missa em Português durante as férias na cidade de São Paulo.

Não é absurdo nem brincadeira, isto ocorre na Espanha.

Fui aprendendo com o passar do tempo, voltando ao famoso tema do meu Vestibular, que as diferenças regionais, às vezes, excluem a identidade nacional; tudo depende de que Nação estamos a falar. No caso da Espanha, há muitas nações dentro da grande Nação e todas elas com as suas respectivas idiossincrasias.


Recomendo bastante:

EL MAPA ESCONDIDO: LAS LENGUAS DE ESPAÑA, de Jesús Burgueño - Departamento de Geografía y Sociología Universitat de Lleida.